Fimose: o cirurgião pediatra explica o que é e como é o tratamento

bebê brincando com brinquedos precisa de cirurgião pediatra para tratar fimose - site Dr. Rafael Rocha

Quando pais higienizam o pênis do bebê alguns percebem que o prepúcio, a pele que recobre a glande, não está retraindo. Se isso está acontecendo é a característica de um quadro conhecido pelo urologista infantil e o cirurgião pediatra como acolamento balano-prepucial ou fimose fisiológica. 

Nesses casos o prepúcio encontra-se “grudado” à glande, porque ainda existem aderências na pele. Boa parte dos quadros encontrados em consultórios são fisiológicos. Ou seja, o corpo está simplesmente passando por uma fase e, com o tempo, as aderências, através de exercícios e aplicação de pomadas, podem se resolver, deixando o prepúcio retrátil e colaborando para a higienização. 

A maioria dos meninos nasce com estas aderências que devem ser avaliadas pelo urologista infantil para indicar o tratamento correto e principalmente orientar a família caso exista a fimose propriamente dita , que exige tratamento cirúrgico e pode até piorar com exercícios e tentativas de descolamento sem orientação. 

Quer entender mais sobre o problema e como ele é tratado? Confira mais detalhes sobre a fimose, seu tratamento e quando ele pode exigir a interferência de um cirurgião pediatra. 

Tipos de fimose mais comuns segundo o cirurgião pediatra

Quando falamos nos tipos estamos falando a respeito de seus graus. Eles são divididos de acordo com a forma que a glande fica exposta ao forçar a pele do prepúcio. Existem diversas classificações para fimose, uma delas (Kayaba et al.) segue abaixo: 

Grau I: o prepúcio não se retrai , não é possível visualizar a uretra, a urina, com dificuldade, sai por uma abertura puntiforme do estreitamento do prepúcio e muita vezes enche o prepúcio como uma bexiga durante a micção. É a forma mais grave 

Grau II: retração discreta do prepúcio com visualização do meato ureteral mas não da glande. 

Grau III: exposição da glande até sua parte média. 

Grau IV: exposição da glande até a coroa . 

Pais precisam ser muito cautelosos na higienização do pênis nos casos de fimose e tentar forçar a pele do prepúcio para realizar a exposição da glande é uma manobra perigosa, que pode até causar uma parafimose ou piora do grau da patologia.

Criança com fimose brincando site Dr. Rafael Rocha cirurgião pediátrico

Fimose fisiológica vs. patológica

O pediatra cirurgião também pode classificar a fimose em dois tipos de acordo com sua origem: fisiológica ou patológica. O primeiro deles é o tipo mais comum e ocorre quando o bebê já nasce apresentando a aderência. O quadro é considerado normal quando surge nos primeiros meses de vida e sua resolução geralmente é espontânea. Mesmo assim, quando a criança é diagnosticada com fimose fisiológica ou primária, é importante realizar o acompanhamento com o urologista infantil. O segundo tipo, o patológico, surge em qualquer fase da vida, seja na infância, adolescência ou até na fase adulta. Ela surge quando fatores externos, como falta de higiene, infecções ou problemas de pele, causam uma aderência anormal da pele ao pênis. Se não for tratada, pode causar complicações, como a parafimose. 

Diferenças entre fimose e aderência 

Atenção, pais! Nem sempre uma dificuldade para expor a glande é considerada como fimose. A aderência ocorre como um tipo de “cola” na pele, que a mantém grudada à glande. Ela é fisiológica e não causa qualquer dano ao pênis, sendo comum em recém-nascidos. Com o amadurecimento da criança, a aderência cede naturalmente ou com exercícios, orientação e uso de pomada. Ela só chega a gerar problemas quando ocorrem tentativas de soltar a pele manualmente de forma incorreta e surgem lesões, que podem tornar o tecido mais “apertado” e provocar o surgimento dessa condição no futuro. 

Diagnóstico da fimose

O diagnóstico da fimose é basicamente clínico. Quando os pais percebem dificuldade em retrair a pele que recobre a glande já existem altas chances do caso ser diagnosticado como fimose. Assim que os responsáveis levam a criança ou bebê ao urologista pediátrico, ele deve realizar o exame físico para confirmar a suspeita. Nesse momento, o médico realiza uma manobra para tentar retrair a pele. Se existirem aderências ou até mesmo inflamações por causa da dificuldade de limpeza local, o quadro está confirmado. É importante que os pais nunca cheguem a uma conclusão sozinhos. Somente o urologista infantil consegue realizar o diagnóstico adequado e prescrever um tratamento. Como falaremos mais à frente, também é recomendado evitar tentativas de retrair a pele forçosamente, já que isso pode provocar lesões que só pioram o quadro. 

O que é parafimose segundo o cirurgião pediatra?

A parafimose é uma urgência cirúrgica que ocorre quando o prepúcio é retraído e não volta a cobrir a glande. A pele estreitada causa estrangulamento na glande, provocando dor, inchaço e vermelhidão. Com o local inchado, o retorno da pele fica ainda mais difícil de acontecer e, progressivamente, o quadro se agrava até o atendimento pelo cirurgião pediatra. 

Ao identificar parafimoses pais precisam procurar ajuda rapidamente. O tratamento precisa ser imediato para evitar danos permanentes ou cirurgia em caráter de urgência. 

Ter o acompanhamento de um urologista pediátrico é a melhor forma de garantir que tudo está bem, evitar urgências e optar pelo tratamento correto e idade correta para ser feito.

Quando a fimose em criança precisa de tratamento

A fimose infantil  sempre precisa ser tratada.  Nos casos mais leves, apenas quando causar complicações como postite (inflamação do pênis) ou infecção urinária . Caso o pênis da criança fique inchado e vermelho por causa de irritações, por exemplo, é hora de procurar um médico para realizar o diagnóstico e tratamento. 

Os microrganismos se acumulam e causam uma inflamação. Se a criança sofre de infecções urinárias frequentes também é importante procurar tratamento para evitar algum tipo de complicação. 

Outros sintomas que devem ser considerados sinais de alerta incluem: 

– Irritação com coceira; 

– Dor ao urinar; 

– Acúmulo de fluido no pênis. 

Pais devem procurar um urologista infantil assim que perceberem sintomas. Tentar tratar o problema com receitas caseiras pode até prejudicar o quadro ou causar uma parafimose. 

Opções de tratamento para fimose em bebê ou criança

O tratamento clínico é indicado nos casos de acolamento balano prepucial ou casos leves de fimose sem complicação. Consiste em exercícios diários e aplicação de pomadas específicas com corticoides e fibrinolíticos. Todavia, para casos mais graves, recorre-se à cirurgia.

Postectomia: a cirurgia de fimose feita por um cirurgião pediatra

Em algumas partes do mundo a cirurgia é utilizada amplamente, mesmo quando meninos não são diagnosticados com o problema. Esse é um costume ligado à religião e tradição de certas comunidades por todo o mundo. Apesar da prática ser controversa, existem defensores do procedimento que alegam que a postectomia traz diversos benefícios, como: 

– Facilitar a limpeza do pênis; 

– Diminuir a incidência de infecções urinárias; 

– Diminuir as chances de contrair doenças sexualmente transmissíveis. 

– Diminuição da incidência de câncer de pênis.

Hoje em dia boa parte da comunidade médica concorda que a cirurgia pode ser evitada no início da vida, no período neonatal, mas, caso haja indicação formal de tratamento cirúrgico, ele pode ser realizado em qualquer idade.

O procedimento consiste na retirada do estreitamento junto ao prepúcio em excesso, permitindo a higienização da glande e evitando uma parafimose. É um procedimento rápido, que não exige internação. 

Como é o pós-operatório de fimose segundo o cirurgião pediatra

Em geral a operação é bastante tranquila. Pacientes podem apresentar alguns sintomas e desconfortos nos primeiros dias após a cirurgia, como: 

– Inchaço; 

– Sangramento leve; 

– Dificuldade para urinar (por medo ou ardência);

– Secreção no pênis (que é chamada fibrina e não é um sinal de infecção ou pus e sim uma fase da cicatrização). 

O curativo da cirurgia fica enrolado em torno do pênis. É um curativo frouxo, que sai com facilidade, e tem como objetivo diminuir o inchaço e o hematoma que pode se formar. O paciente consegue urinar com o curativo, que é aberto em sua ponta. Esse deve ser preservado até o dia seguinte, portando não deve ser molhado no dia da cirurgia, e deve-se ficar atento para que a criança não retire o curativo. Mas se perder o curativo antes da hora de retirar não há problemas. Deve ser realizada apenas limpeza local e aplicação de pomada e manter sem curativo. 

Em caso de dor, o paciente pode utilizar analgésicos que são prescritos pelo cirurgião. 

Existem riscos na cirurgia para a criança? 

Em geral, a cirurgia para corrigir o problema é um procedimento bastante simples e com baixos riscos. No mesmo dia o paciente volta para casa e, contanto que o pós-operatório seja feito corretamente como indicamos acima, não deve apresentar qualquer anormalidade. No entanto, como acontece com qualquer procedimento cirúrgico, ainda existem riscos associados à circuncisão. É possível que ocorra sangramento anormal no lugar do corte, assim como inflamação local. A criança também pode apresentar irritação na cabeça do pênis nos dias seguidos à cirurgia. Todos os riscos podem ser controlados com medicamentos recomendados pelo próprio cirurgião pediatra. Caso o local operado não apresente melhora após 10 dias, os responsáveis devem levar o paciente ao urologista novamente para avaliar sua condição. 

Garotinho com fimose brincando site Dr. Rafael Rocha cirurgião pediatraComplicações do problema 

Talvez alguns pais tenham medo que a cirurgia seja um método muito extremo de tratamento, especialmente em bebês mais novos. Mesmo assim, é importante conversar com um urologista pediátrico de confiança para ter certeza que o tratamento cirúrgico não é necessário. Quando a questão não é tratada adequadamente o paciente pode desenvolver uma série de problemas, incluindo: 

Infecções urinárias recorrentes: isso ocorre especialmente quando a urina fica retida sob a pele por períodos prolongados. Combinada à dificuldade de higienização, isso facilita o acúmulo de bactérias que causam infecções, especialmente nos primeiros cinco anos de vida; 

Parafimose: quando a pele que recobre a glande fica muito “apertada” ela se torna uma parafimose e pode prejudicar o fluxo sanguíneo no local; 

DSTs: adolescentes e adultos com fimoses não tratadas possuem maiores chances de contrair doenças sexualmente transmissíveis durante relação sexual sem uso de preservativos. Isso acontece porque a pele pode desenvolver pequenas feridas que aumentam o contato com fluidos corporais do parceiro.

Existe fimose na vida adulta?

Adultos que não passaram pela cirurgia de postectomia com um cirurgião pediatra na infância podem desenvolver complicações com a patologia mais tarde. Geralmente os problemas são mais complexos como balano postite xerótica (uma inflamação peniana grave), além de doenças sexualmente transmissíveis e câncer de pênis. A ereção também pode ser dolorosa, sendo ou não acompanhada por ardência na micção e sangramento. O tratamento também é cirúrgico na maioria dos casos.

Existe fimose em meninas?

Sim! Mas fimose em meninas é algo bastante raro. O que ocorre nesses casos é a sinéquia vulvar, uma condição que causa a aderência entre os pequenos lábios, fechando o canal vaginal e, em alguns casos, recobrindo também o clitóris. A condição leva à maior incidência de infecção urinária, corrimentos e dor ao urinar. Como a condição geralmente é causada por baixa concentração de hormônios femininos, o tratamento pode ser feito com pomada de estrogênio ou cirurgia de pequeno porte. 

Como pais podem ajudar na prevenção

O problema em si nem sempre pode ser prevenido. Mesmo assim, pais podem tomar alguns cuidados, principalmente com a higienização de bebês, para evitar infecções e outros problemas relacionados à ele. Confira alguns cuidados recomendados em bebês e crianças que possuem aderências que podem gerar essa condição: 

– Lavar o pênis de maneira delicada com água e sabão diariamente sem forçar a exposição da glande; 

– Com muito cuidado, puxe a pele até onde é possível, nunca force; 

– Use sabonetes específicos para crianças, de preferência sem perfume e neutros para evitar alergias; 

– Evite usar talco em excesso. Também não passe cremes ou outros produtos cosméticos que não sejam específicos para a faixa etária e local; 

– Tome cuidado com a temperatura da água, preferindo sempre água morna que não cause irritação ou queimaduras.