O que é testículo retrátil em crianças e como tratar.

Garoto com testículo retrátil pensativo - Dr. Rafael Pinto da Rocha, urologista infantil e cirurgião pediátrico

O testículo retrátil ocorre quando a criança possui um testículo completamente descido, mas que, em algumas situações, “muda” de posição, permanecendo acima do saco escrotal. O testículo é envolvido por um músculo chamado de cremaster que pode contrair-se e causar o quadro. Existem casos de retratilidade que os pais dificilmente percebem, já que o testículo permanece em sua localização normal durante o sono ou repouso. Em outros, é possível confundi-lo com testículos não descidos, outra condição que também precisa da atenção de um urologista pediátrico. A localização correta dos testículos é importantíssima para o desenvolvimento da criança. Eles precisam estar na temperatura adequada para a produção hormonal durante toda a infância e, após a puberdade, para produzir espermatozóides. Por isso, é importante manter o acompanhamento do urologista pediátrico para identificar a condição o mais cedo possível e iniciar o tratamento.

Quais são as principais causas de testículo retrátil? 

Em alguns casos o testículo retrátil ocorre somente por causa do desenvolvimento dos músculos abdominais. No entanto, é possível que o problema surja por causa de outras patologias ou doenças congênitas ou relacionadas ao desenvolvimento infantil. Nesse caso, o urologista infantil precisa acompanhar o paciente para realizar o diagnóstico e tratamento. Conheça abaixo algumas das principais causas de testículos retráteis em bebês e crianças e como identificar algumas delas. 

1. Criptorquidia

A principal característica da criptorquidia é a ausência de um ou ambos os testículos no saco escrotal quando o bebê nasce. Para entender por que ocorre a condição, é importante saber como acontece a formação desses órgãos. Os testículos começam a formar-se na sexta semana de gestação, mas neste momento ainda estão localizados na região inguinal. Ou seja, ficam dentro do abdome, próximos aos rins. Quando o bebê chega a sua nona ou décima semana de gestação, eles migram para a região inguinal, próximo à virilha. Eles só começam a migrar em direção à bolsa escrotal ao redor da vigésima-oitava e quadragésima semana gestacional.  Em muitos bebês a criptorquidia possui resolução espontânea. Mas outros precisam de tratamento e até cirurgia, tudo vai depender da evolução do quadro conforme o bebê se desenvolve.

2. Prematuridade

A combinação de bebês prematuros com baixo peso no nascimento é um dos principais fatores de risco para apresentar testículos não descidos ou retráteis. Isso acontece porque o organismo ainda está se desenvolvendo e passando por mudanças. Em geral, casos de testículos retráteis relacionados à prematuridade não precisam de tratamento imediato, a não ser que existam complicações. Mesmo assim, os pais devem manter o acompanhamento de rotina com o urologista pediátrico. Caso necessário, podem começar o tratamento assim que possível. Mulheres que apresentam desequilíbrio hormonal tem maiores chances de terem bebês prematuros com testículos retráteis. Mesmo nesses casos a taxa de resolução espontânea é bastante alta. 

3. Testículos ectópicos

Quando bebês não apresentam um ou ambos os testículos na bolsa escrotal, é possível que não estejamos diante de um caso de testículos retráteis, mas sim de ectópicos. Antes da criança nascer o testículo migra através do canal inguinal até chegar ao seu local correto. Em alguns casos ele se desvia da rota e acaba fixado na coxa, abdômen ou períneo. É o que especialistas em urologia infantil chamam de testículo ectópico. Em geral, o tratamento da condição é cirúrgico. O procedimento deve ser realizado cedo para diminuir o possível trauma para a criança e garantir melhor recuperação.

4. Testículos migratórios

O cremaster, músculo responsável por realizar a tensão ou relaxamento da bolsa escrotal, pode ser hiperativo em algumas crianças, fazendo com que os testículos “migrem” sob certos estímulos para a região inguinal ou abdominal. Casos de testículos migratórios são bastante simples de perceber, já que eles voltam à posição correta quando aquecidos ou manuseados pelo médico. É raro precisar de tratamento cirúrgico para quadros como esse, já que os testículos tendem a fixar-se à bolsa escrotal conforme a criança se aproxima da adolescência.

Bebê com testículo retrátil assustado - Dr. Rafael Pi9nto da Rocha, urologista infantil e cirurgião pediatra

Testículo retrátil vs. anorquia

Quando os pais percebem que o saco escrotal está aparentemente “vazio” é possível que estejam lidando com um quadro de testículo retrátil. Ou seja, o testículo está presente, porém move-se para a região inguinal ou abdominal em certas circunstâncias. No entanto, também podemos encontrar a anorquia, que é caracterizada pela inexistência de um testículo. Por algum motivo, pacientes com a condição não formaram os dois testículos durante o seu desenvolvimento. Por outro lado, o paciente raramente precisa de tratamentos específicos para a anorquia, porque o outro testículo funcional compensa o desequilíbrio. Conforme a criança se desenvolve é possível identificar possíveis problemas hormonais e corrigi-los, se houver necessidade.

Fatores de risco para desenvolver testículo retrátil 

Alguns fatores de risco são bastante importantes na ocorrência de testículo retrátil. Primeiramente, bebês prematuros ou com baixo peso ao nascer são muito mais suscetíveis ao problema. Frequentemente, eles são afetados por criptorquidia, que se resolve conforme o bebê amadurece. Também existem alguns fatores genéticos relacionados. De 12 a 15% dos pacientes com o problema possuem histórico familiar de criptorquidia ou testículos não descidos. Pais que tiveram a condição na infância têm 4% de chance de terem filhos diagnosticados com o mesmo. Além disso, gêmeos têm chances bem maiores de terem o problema. Bebês do tipo possuem cerca de 10% mais possibilidade que outros. 

Tratamento para testículo retrátil

Algumas vezes o urologista pediátrico recomenda que o testículo retrátil não receba tratamento, ficando apenas sob observação. Não existe motivo para preocupação quando isso acontece, já que boa parte dos quadros resolvem-se de forma espontânea. Quando o diagnóstico indica uma condição subjacente mais grave ou que possa gerar complicações talvez seja necessário realizar a cirurgia. O mais recomendado é buscar um urologista infantil ao perceber os primeiros sinais do problema. Antigamente era comum esperar que a criança tivesse certa idade para iniciar o tratamento. Mas estudos modernos indicam que casos de testículo retrátil não tratados e sem resolução espontânea podem causar lesões permanentes a partir dos seis meses de idade. Além disso, especialistas procuram realizar alguns tipos de tratamentos cirúrgicos entre os seis e dezoito meses. Isso ajuda a evitar traumas relacionados à cirurgia e anestesia nos pequenos para uma infância mais saudável.

Bebê com testículo retrátil brincando enquanto é examinado pelo urologista infantil - site Dr. Rafael Rocha, cirurgião infantil e Urologista Pediátrico São Paulo

Sintomas que podem indicar testículos retráteis

Os pais ficam preocupados ao suspeitar que o seu filho possui testículos retráteis. Diante da dificuldade em identificar os sintomas, quanto antes os responsáveis procurarem pelo urologista infantil para uma avaliação e possível tratamento, maiores serão as chances de não haver lesão testicular. 

Existem alguns sintomas comuns em quadros como esse, e os pais devem ficar atentos a eles:

● Testículo “sobe” para a região da virilha espontaneamente (sem manobras manuais).

● Testículo fica mais tempo fora da bolsa escrotal do que dentro dela.

● Os testículos não são identificados na região da virilha nem no saco escrotal. 

Lembrando que, conforme mencionamos no início desse artigo, muitas situações têm resolução espontânea até 1 ano de idade. Em crianças bem novas ou recém-nascidas, se o testículo for palpável, o ideal é somente observar os sintomas e relatar ao urologista infantil até 1 ano de idade. 

Dicas para pais perceberem o problema de testículo retrátil

O principal sintoma do testículo retrátil é a ausência do mesmo no saco escrotal. No entanto, existem outros sinais para os quais os pais ou responsáveis precisam estar constantemente em alerta. Considerando que o tratamento rápido é uma das chaves para que o menino não sofra lesão testicular e consequências quando mais velho, a atenção para todos os aspectos é essencial.

A hora do banho é uma das melhores oportunidades para realizar esse tipo de avaliação. Os urologistas pediátricos recomendam que esse seja um momento calmo, para uma conexão maior entre pais e filhos e também para verificar a condição de saúde da criança. Ao higienizar o pênis e os testículos, repare na sua condição, aparência e se existe alguma razão para preocupação.

Caso perceba algum aspecto anormal, como a ausência dos testículos no saco escrotal, evite manusear o órgão. Qualquer diferença deve ser motivo para visitar o urologista.

Testículo retrátil: quando é indicado ir ao urologista ou à emergência?

Durante um banho, você percebeu o testículo retrátil na criança, então, o que fazer? Será que é algo urgente o suficiente para ir à emergência ou dá tempo de esperar a próxima consulta com o urologista dentro de algumas semanas?

Dependerá bastante dos sinais que o paciente apresentar. Em alguns casos, o quadro não é urgente e pode até ter resolução espontânea. Mesmo assim, requer acompanhamento do médico especialista. Em outros, é importante buscar ajuda médica o mais rápido possível, já que há risco de complicações.

Consulta com urologista pediátrico

Após o nascimento, a ausência do testículo em seu local correto já é motivo de preocupação. Portanto, ao identificar esse sinal, é essencial agendar uma consulta com um urologista especializado no público infantil.

Os pais que estiverem na dúvida se o caso é de testículo retrátil ou criptorquidia, ausência de testículo na bolsa escrotal no nascimento, também devem procurar por um especialista. Os testículos criptorquídicos não descem naturalmente, desse modo, necessitam de tratamento cirúrgico. O ideal é que o diagnóstico aconteça logo, para evitar lesão do testículo. 

Normalmente, tanto o caso retrátil quanto o de criptorquidia, quando desassociados de dor, não são de urgência. Mas quando há dor, pode significar uma torção testicular. 

Atendimento de emergência

Em geral, os pais e responsáveis devem considerar o quadro como emergencial, quando existe ausência bilateral dos testículos. A combinação do testículo que se retrai e outras anomalias, como hipospádia (malformação congênita) ou problemas de diferenciação sexual, também indica que há necessidade de atendimento rápido.

No entanto, a dor é o sinal mais relevante. Quando o responsável apalpa o testículo e a criança apresenta sinais de desconforto, como choro, grito ou reclamações, vale a pena procurar por atendimento de emergência. 

A recomendação é buscar serviços com estrutura para atendimento do público infantil, porque pode ser uma torção testicular. Sem atendimento imediato, o tecido do órgão está suscetível a danos permanentes após 4 horas do início da dor, podendo ser um quadro irreversível com perda do testículo. 

Criança com testículo retrátil chorando - site Dr. Rafael Rocha, cirurgião infantil e Urologista Pediátrico São Paulo

Possíveis complicações do testículo retrátil

O testículo retrátil nem sempre é inofensivo. As crianças que não recebem tratamento ou acompanhamento com urologista estão sob o risco de sofrer com uma das complicações que descrevemos abaixo. 

Torção testicular

Essa é uma situação de emergência que ocorre quando existe falta de irrigação sanguínea ao testículo devido à torção dos vasos sanguíneos que o nutrem. Quando o quadro permanece por muito tempo, a falta de irrigação sanguínea aos tecidos provoca lesões graves e irreversíveis.

O problema é comum em pacientes com o quadro retrátil, seja por torção espontânea ou algum trauma na região. O principal sinal é a dor aguda de início súbito, acompanhada de:

● Vômitos.

● Febre.

● Edema escrotal.

Em casos mais raros, a torção tem solução espontânea. Ainda assim, é importante procurar por um médico especialista, já que o quadro pode se repetir de forma bem mais grave.

Hérnia inguinal

A criptorquidia ou os testículos retráteis são fatores que aumentam muito as chances de surgimento de hérnia inguinal em crianças. Esse tipo de condição gera a projeção de órgãos da cavidade abdominal, por meio de uma fraqueza na parede muscular dessa região.

No caso do paciente com criptorquidia, o próprio testículo pode ser o órgão projetado. Isto é, além de causar uma protrusão desconfortável no local, eleva o risco de estrangulamento do órgão. Nessas circunstâncias, o paciente deve ser submetido a uma cirurgia, visando evitar maiores complicações.

Problemas de fertilidade na vida adulta

O quadro que mencionamos aqui é um dos principais causadores de infertilidade nos homens adultos. A falta de fertilidade também aumenta o risco de desenvolvimento de tumor nos testículos ao longo da vida. Isso é altamente recorrente, quando o paciente sofre uma torção por causa da retratilidade dos testículos, fato que podemos evitar com o devido acompanhamento médico.

Meu filho precisa de cirurgia para testículo retrátil, e agora?

Quando o diagnóstico do testículo retrátil ocorre tardiamente ou há risco de complicações, a criança talvez necessite de cirurgia. Primeiramente, queremos lembrar que o tratamento deve acontecer o mais cedo possível. Afinal, o testículo precisa estar em uma temperatura abaixo da corporal, para que ocorra a espermatogênese (geração de novos espermatozoides).

Portanto, mesmo que a criança não tenha dor ou outros sintomas, a diferença de temperatura no testículo causa mais problemas conforme ela envelhece. O ideal é que o procedimento ocorra por volta de 1 ano de idade, mas pode acontecer posteriormente.

A operação para esses quadros é de porte pequeno e tem como finalidade posicionar o testículo no saco escrotal. O procedimento cirúrgico é executado sob anestesia geral e, usualmente, permite que os pacientes voltem para casa logo após a cirurgia, no mesmo dia, sem necessidade de internação. 

No caso de testículos palpáveis, é viável realizar somente uma cirurgia. Já em casos não palpáveis, inicialmente, é necessário fazer uma videolaparoscopia, com o intuito de localizá-los na cavidade abdominal. Aproximadamente seis meses depois dessa primeira etapa, chega o momento de fazer uma operação para colocá-los no lugar correto, caso não tenha sido possível a resolução em um tempo só por videolaparoscopia.